Greve dos distribuidores de cocaína por tempo indeterminado

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Greve dos distribuidores de cocaína por tempo indeterminado

Esta é uma greve sem precedentes, a greve iniciada na passada sexta-feira teve uma adesão de 100, avança fonte sindical. Os distribuidores de coca reclamam aumentos salariais dignos e justos e progressão na carreira. Os distribuidores exigem melhores condições, uma vez que esta é uma profissão de risco e que não é reconhecida, como tal, não são efectuados descontos, logo, o tempo de trabalho não conta para a reforma.

Foi em Coruche, a pacata vila ribatejana, onde se registou o epicentro da greve. A capital do Sorraia, também conhecida como a capital da cortiça, é a localidade que regista o maior consumo per capita de coca do país, de acordo com um estudo efectuado pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência. Já há quem queira alterar o nome da vila para Medellin ou Nova Amsterdão.

Percorremos as ruas de Coruche para tentar perceber qual o impacto que esta greve terá do dia-a-dia da população, a realidade é esta, grande parte dos consumidores de cocaína não admite que está viciado. Muitos deles fazem vidas duplas, nem namoradas, mulheres, família, filhos, amigos, entre outros, sabem que estes indivíduos (muitos deles são figuras proeminentes da sociedade) consomem regularmente cocaína. Antigamente, havia um pretexto para consumir, uma festa de aniversário, o dia 14 da festa do Castelo, a passagem de ano, etc… Agora, já não existe pretexto, qualquer saída, uma ida ao café com amigos e quando dão por isso já estão “com o nariz no balde da farinha” (expressão frequentemente utilizada pelos consumidores).

Em conversa com alguns consumidores, rapidamente percebemos como funciona este esquema. Ninguém admite o vício, como exemplo, falámos com o Johnny e este diz que o Marvin está viciado e tem andado a dar bem na “fruta” (outra expressão). De seguida, falámos com o Marvin e este diz que está tudo controlado, é só em dias de festa mas que o Johnny é que está viciado, todos os fins-de-semana dá na “brita”.

As autoridades pouco ou nada têm feito, a droga circula livremente nas ruas da vila, é tão fácil comprar droga, é como ir à peixaria comprar meia dúzia de chicharros. Já há quem diga que em Lisboa há a praga das trotinetes e em Coruche há a praga dos cocainados.
Falámos com alguns consumidores para saber a sua opinião acerca desta greve que tem afectado grande parte da população:

“Espero que a greve termine rapidamente, o Benfica está em vias de vencer o campeonato e assim como é que eu vou festejar?” – disse um indivíduo que pediu para permanecer no anonimato.

“Já há vários dias que não consumo, demorei anos a construir uma vida de fachada e agora está tudo prestes a ruir, as pessoas à minha volta notam que estou bastante ansioso e não me consigo divertir” – disse outro indivíduo que pediu para permanecer no anonimato.

“O fim-de-semana passado foi uma porcaria, com a coca podia beber à vontade, quando estava a ficar bêbado mandava um risco e a bebedeira passava. Podia passar a noite toda a beber que não me embebedava”.

“Comecei a dar brita por causa dos meus amigos, não quis ficar atrás e quis ser um tipo fixe, de modo a integrar-me melhor no grupo. A coca é a droga da moda, já ninguém fuma ganzas”.

“Quando consomes coca sentes-te superior, ficas confiante e podes fazer coisas que nunca pensaste fazer, a coca dá-te liberdade para externalizar certos sentimentos”.

As farmácias também têm sofrido com esta greve registando já perdas de 30. É comum haver um corte cada vez que a droga passa de distribuidor, juntam-se vários medicamentos e assim o produto rende mais. O consumidor final já está tão habituado a um produto de péssima qualidade que nem dá por isso, o importante é alimentar o nariz guloso.

É esperado que na próxima sexta-feira sejam iniciadas as rondas negociais entre o sindicato dos distribuidores e os patrões.

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